O ócio tão necessário ao ser vivo, muitas vezes nos leva a pensar e recordar fatos vividos. Este “post” trata-se de um caso desses.
No inicio do ano de 1978, eu era Aspirante-a-Oficial PM, servindo no 19º BPM, quando fui chamado pelo meu Comandante, o então TC Manoel Narciso de Oliveira, que me determinou que o representasse numa reunião com a Comunidade de Copacabana no Clube Israelita Brasileiro, alertou-me que faria parte da mesa coordenadora dos trabalhos em seu lugar, como representante do poder legal. Fui tomado de um inocente orgulho, pois estaria representando meu Comandante junto a Sociedade que, naquela época, respeitava e temia todo aquele que usava farda.
No horário previsto coloquei “meu general” (túnica) e dirigi-me ao local.
Tudo muito organizado, as pessoas muito educadas, algumas bem simples no linguajar outras com transparente eruditismo.
Como havia sido alertado pelo TC Narciso, fui chamado para compor a mesa, naquele momento comecei a pensar e a elaborar o que falaria quando chegasse a minha hora de tecer comentários. Pensei: "usarei termos técnicos dessa forma não serei questionado e demonstrarei conhecimento de causa." Ainda vivíamos sob a égide do AI-5 e os jargões aprendidos nas aulas de ODIDT (Operação de Defesa Interna e Defesa Territorial) ainda estavam em voga. O nervosismo era quase incontrolável, pois ali não era eu , mas sim o meu Comandante, não podia expô-lo nem tampouco decepcioná-lo.
Chegou à hora, levantei-me e após alguns segundos em silêncio, agradeci o convite formulado ao meu Batalhão, desculpei-me pela ausência de meu Comandante, pus-me e a OPM a disposição para qualquer esclarecimento no Campo da Segurança Pública e a seguir me calei e sentei.
No dia seguinte, na reunião de oficiais, meu subcomandante, o então Major Francisco Duran Borjas, instou-me sobre o evento que participara. Após narrar os fatos e minha fala, ele indagou-me porque me limitei a falar tão pouco, se era nervosismo ou medo. Neste momento, voltei-me para o TC Narciso que estava presente e disse que naquele evento eu era o representante do meu Comandante, preferi falar de maneira simples e objetiva e de repente passar por tímido ou simplório, do que de forma rebuscada e correr o risco de passar por ridículo e envergonhar o Comando.
O Comandante dirigiu-se a mim, apertou minha mão e saiu da reunião que se encerrou.
Histórias da caserna que vivemos e transmitimos a quem quiser aprender.
ESTEVES – CEL RR