30 de ago. de 2018

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MUDANÇA NAS CORTES
Novo presidente, Noronha critica transformação do STJ em ‘terceira instância’
Durante cerimônia de posse Noronha defendeu a criação de um filtro de relevância para a entrada de casos no STJ

        MARIANA MUNIZ
BRASÍLIA
29/08/2018 comentários

Presidente do STJ, João Otávio de Noronha, ao lado da vice presidente da Corte, Maria Thereza de Assis Moura Crédito Gustavo Lima
O ministro João Otávio de Noronha tomou posse nesta quarta-feira (29/8) como novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo maior tribunal do Poder Judiciário brasileiro. Ele assume o cargo mais alto da Corte por um mandato de dois anos – no lugar de Laurita Vaz, primeira mulher a assumir a cadeira de presidente no tribunal.
Durante a cerimônia de posse, Noronha criticou a transformação dos tribunais superiores em “cortes de terceira instância” que, segundo ele, “asfixiam seu regular funcionamento”.
“É preocupante o futuro do STJ, que viu-se submetido à rotina de apreciar uma fartura de processos que todos os dias chegam por atacado. Que papel relevante há em confirmar ou reformar decisões dos tribunais regionais ou estaduais?”
Noronha disse ser “urgente” a aprovação, pelo Senado Federal, da Emenda à Constituição que cria o filtro de relevância para a entrada de recursos no STJ, – a chamada PEC da Relevância.
“Ao contrário do que se vem insinuando, não se trata de um eufemismo para impedir o livre acesso à jurisdição. Portanto, a expectativa é que o Senado aprove o texto da PEC, pois o país precisa de um processo menos burocrático e mais eficiente.”
O novo presidente assumiu o compromisso de “trabalhar para fortalecer o prestígio do STJ como órgão competente para decidir irrecorrivelmente sobre todo contencioso infraconstitucional”. Para ele, o STJ foi criado para dar a “última palavra” sobre a legislação infraconstitucional, “sem nada e a ninguém consultar”.
Ao falar sobre os desafios de assumir a direção do STJ “num dos períodos mais turbulentos da vida nacional”, Noronha destacou a atuação do Ministério Público, “conduzindo ações de combate à impunidade e à corrupção”, salientando, porém, que “uma dose de equilíbrio é sempre medida para que nossas instituições não se transformem em espetáculo”.
Noronha atacou aqueles que apostam num “desgaste da confiança da Justiça, subvertendo a verdade e fazendo um desserviço à história”. “A justiça sofre os efeitos dessa campanha. Antes, tínhamos 210 milhões de torcedores. Hoje, temos 210 milhões de críticos revisionistas das decisões judiciais”, completou o novo presidente.
Na mesma cerimônia, na sede da Corte, em Brasília, a ministra Maria Thereza de Assis Moura também tomou posse, como vice-presidente.
Perfil
Natural de Três Corações (MG), Noronha, de 62 anos, fez carreira como advogado do Banco do Brasil, tendo exercido o cargo de diretor jurídico da instituição. É ministro do STJ desde 2002, quando foi nomeado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. É casado e tem dois filhos.
No STJ, foi membro da Primeira e da Segunda Seção. Também foi corregedor-geral da Justiça Federal, corregedor-geral eleitoral no Tribunal Superior Eleitoral e diretor-geral da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
Até assumir a presidência do STJ, era o corregedor nacional de Justiça no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). De personalidade forte, o 18º presidente do STJ chega a um tribunal cada vez mais visado com a missão de não reproduzir o que criticou na gestão anterior.
Convidados
O presidente da República, Michel Temer, assistiu à cerimônia de posse do novo presidente do STJ, assim como as presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber. Também marcou presença a procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Participaram ainda da cerimônia o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia.
A lista de presentes no evento ainda contou com os senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Romero Jucá (PMDB-RR), e outros convidados, entre eles os governadores de Minas Gerais, Fernando Pimentel e do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB).
Na plateia ainda estavam o ex-presidente da República José Sarney, os ministros do STF Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Marco Aurélio Mello.