Lava Jato: MPF/RJ e PF investigam lavagem de
dinheiro por meio de obras de arte
Operação
realiza busca e apreensão em endereços ligados a Suzana Neves, ex-mulher de
Sérgio Cabral
08/05/2017
A
pedido do Ministério Público Federal, a 7ª Vara Federal Criminal do Rio de
Janeiro expediu dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a
Suzana Neves, ex-mulher do ex-governador Sérgio Cabral. Os mandados estão sendo
cumpridos pela Polícia Federal nesta segunda-feira (8), em Araras (RJ) e São
João del-Rei (MG).
A partir de fatos apurados nas operações Calicute e
Eficiência, identificou-se que Suzana Neves comprou, em nome de sua empresa
Araras Empreendimentos Consultoria e Serviços Ltda, um imóvel em São João
del-Rei por R$ 600 mil sem que, aparentemente, tivesse recursos de origem
lícita compatível. O MPF apura se o imóvel está sendo utilizado para guardar
bens de valor adquiridos com recursos ilícitos da organização chefiada por
Cabral, como obras de arte, por exemplo, pois informantes relataram que, nos
meses de janeiro e fevereiro de 2017, houve o descarregamento de um “container
de quadros” na casa.
Além disso, a Receita Federal detectou que a Araras
Empreendimentos teve movimentação financeira incompatível com a receita bruta
declarada e distribuiu lucros e dividendos incompatíveis com as receitas
auferidas, nos exercícios de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015. O levantamento
demonstra que a sede da empresa é a própria residência de Suzana, no bairro da
Lagoa, no Rio de Janeiro, e que não há nenhum empregado registrado.
Origem
ilícita - As investigações também
apontam que Suzana Neves utilizou sua empresa para ocultar a origem ilícita de
R$ 1.266.975,00. Entre 25/10/2011 e 13/12/2013 foram identificadas 31
transferências bancárias de recursos oriundos do grupo de empresas da
empreiteira FW Engenharia, por intermédio da empresa Survey Mar e Serviços
Ltda, que realizou pagamentos à Araras Empreendimentos a título de serviços de
consultoria em valor quase duas vezes maior que a sua renda bruta declarada.
Quase 50% dos valores recebidos pela Survey da FW no período analisado pela
investigação foram repassados logo em seguida para a empresa de Suzana Neves.
Toda a movimentação aponta para lavagem de dinheiro
pago como propina à organização criminosa em contratos que o governo do estado
do Rio de Janeiro firmou com a FW Engenharia. Em diligências de busca e
apreensão autorizadas durante a operação Calicute, foram apreendidas diversas
anotações que indicam o pagamento de propina pela empreiteira FW Engenharia em
benefício da organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral. Um dos contratos
firmados com a empresa, no valor de R$ 35 milhões, teve por objeto a elaboração
de projeto executivo e a execução de obras complementares de urbanização no
Complexo de Manguinhos, comunidade beneficiada pelo PAC Favelas. A contratação
foi financiada com recursos da União provenientes do Programa de Aceleração do
Crescimento.
As oito denúncias já apresentadas pela força-tarefa
da Lava Jato no Rio de Janeiro revelam como Sérgio Cabral instituiu, ao assumir
o governo do do estado, em 2007, um esquema de cartelização de empresas e
favorecimento em licitações, mediante pagamento de propina de cerca de 5% em
todas as grandes obras públicas de construção civil contratadas junto ao ente
público, quase sempre custeadas ou financiadas com recursos federais. As
investigações demonstram que a organização desviou mais de US$ 100 milhões dos
cofres públicos mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos de
propina para o exterior.