'Quero meu nome limpo', diz
Nelma Saraça, citada na investigação da Calicute
Linha telefônica que seria usada por Sérgio Cabral para negociar propina
está registrada no nome e no CPF de Nelma de Sá Saraça. Advogado vai entrar com
ação contra o ex-governador.
A casa de pouco menos de 40m², situada em Maricá, na
Região dos Lagos, e a renda mensal de R$ 1.300 da empregada doméstica Nelma de
Sá Saraça destoam do poder aquisitivo dos investigados da Operação Calicute.
Entretanto, o nome e o CPF de Nelma aparecem nas investigações, que apontam a
doméstica como a dona da linha telefônica que seria usada pelo ex-governador
Sérgio Cabral para negociar propinas, um sistema que envolve o desvio de mais
de R$ 220 milhões.
Nelma nega conhecer qualquer pessoa
relacionada com o ex-governador. No último fim de semana, ela procurou o
advogado Luiz Alfredo de Oliveira para pedir orientações, com medo do assédio e
de ser apontada nas ruas como laranja do ex-governador. O advogado contou que
vai entrar com uma ação contra Sérgio Cabral por danos morais, para que sua
cliente seja indenizada por todo constrangimento que vem passando (assista ao vídeo abaixo).
"Nunca tive contato nem trabalhei com Cabral, nem
com ninguém da família dele. Trabalho como doméstica há três anos e dois meses
e com a mesma patroa há dois anos", explicou Nelma ao G1. Ela tem 42 anos, divide a casa com mais cinco
pessoas, e garante estar alheia às acusações as quais Cabral vem sendo
submetido.
"Não acompanho porque não tenho
tempo, trabalho o dia todo, chego cansada. Além disso, minha televisão está
quebrada", afirmou. Por falar em televisão, este é o item que Nelma indica
sendo o bem mais caro que possui.
"A televisão foi a coisa mais cara
que já comprei até hoje, que mesmo assim meu filho quebrou. À vista, a TV saía
por R$ 1.300, mas como comprei à prestação, saiu um dinheirão. Ainda estou
pagando uma coisa quebrada", contou. O G1 procurou
o advogado de Sérgio Cabral, mas até a publicação desta reportagem não obteve
retorno.
Muito diferente de Cabral, que coleciona
obras de artes, joias, lanchas e móveis caros, Nelma vai a pé para o trabalho,
para economizar. "Ganho R$ 1.100 de salário e mais R$ 200 para a passagem,
mas vou andando para economizar o dinheiro da passagem para poder ajudar dentro
de casa. Tenho despesa de R$ 450 de aluguel, comida para comprar, filho para
criar, minha casa é muito pequenininha para seis pessoas que moram nela. É um
quitinete de telha, com quarto, sala, cozinha e banheiro".
Após o susto de saber que seu nome está
citado na investigação do Ministério Público Federal, Nelma só que
desassociá-lo do envolvimento com Cabral. "Levei um susto, fiquei de boca
aberta e assustada. Ficam me chamando de laranja quando passo na rua, isso não
é legal, fora todo o constrangimento que estou passando por uma coisa que não
tenho nada a ver. Só quero meu nome limpo, longe desse esquema todo".
Mais de 500 ligações.
Com base nos dados do Sistema de Investigação de
Registros Telefônicos e Telemáticos, o Sittel, o Ministério Público Federal
chegou a um número cadastrado em nome de Nelma de Sá Saraça, e que, ao analisar
as mais de 500 ligações entre os investigados, os promotores chegaram a
conclusão que essa era uma linha usada exclusivamente pelo ex-governador Sérgio
Cabral.
No documento, o MPF relatou que Sérgio Cabral,
Wilson Carlos e Carlos Miranda usavam telefones com outros nomes para ocultar
as negociações. O ex-governador Sérgio Cabral usava o telefone em nome de Nelma
de Sá, Carlos Miranda usava a linha registrada em nome de Boomerang Comércio de
Veículos e Wilson Carlos na de Luiz Cláudio Maia. Os promotores também se
basearam no depomento de Alberto Quintaes, diretor na Andrade Gutierrez e
delator da Operação Calilute.
ESTEVES – CEL RR
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